A primeira qualidade definidora de saúde mental de que fala Nancy McWilliams, e que introduzi no meu último post, é a experiência de um sentimento de segurança. Temos aqui uma questão de tradução. Embora não sejam coisas completamente separadas, estamos mais a falar da sensação de estar protegido, ou a salvo, e de poder confiar (safety, security, trust), do que de “ser confiante”. Também importa sublinhar que qualquer pessoa conhece a experiência de se sentir insegura ou em perigo, tanto em termos físicos como emocionais, e que muitas vezes há boas razões para isso. Mas não é esse o nosso assunto.
O sentimento de segurança de que falamos pode manifestar-se mais na esfera das relações, na da “vida interior” ou nas duas. A primeira, das relações, tem que ver com a possibilidade de experienciarmos as outras pessoas como confiáveis e fonte de conforto, e não apenas de ameaça, julgamento ou desilusão. Para quem sente dificuldades nisto, a ideia de contar com outros para coisas que realmente importem é estranha, e a aproximação de uma pessoa afectuosa é desestabilizadora e gera desconfiança. A segunda esfera, mais interna, é sobre até que ponto nos sentimos a salvo “dentro da nossa mente” e encontramos dentro de nós um lugar into which to retreat for relaxation. Para algumas pessoas, olhar para dentro ou estar só são experiências muito ameaçadoras. Talvez uma metáfora nos ajude: são pessoas que, sozinhas em casa, não se sentem em segurança e estão permanentemente alerta. Como no relato do psicoterapeuta Jon G. Allen, I once remarked in a trauma-education group, “The mind can be a scary place.” A patient quipped, “Yes, and you wouldn’t want to go in there alone!” Na metáfora anterior, é provável que o primeiro grupo, ao contrário deste, prefira encontrar-se com pessoas fora de casa, na rua. Com sorte, à porta de casa. À janela, vá.
Estas coisas têm origem na história de vida de cada um, como se calcula. Em particular, na experiência de termos encontrado, nas relações significativas desde os primeiros anos, um espaço de segurança psicológica. Nascemos todos dependentes de outros, incapazes de assegurar a nossa sobrevivência, e a forma como é acolhido o nosso desamparo original é a fundação do sentimento de segurança que internalizamos. Como nos diz a teoria da vinculação, precisamos de pessoas suficientemente disponíveis, atentas e capazes de perceber e responder às nossas necessidades de forma sensível, consistente e não intrusiva (The basis of the capacity to be alone is a paradox; it is the experience of being alone while someone else is present).
Felizmente, o que nasce nas relações também se transforma através delas. O sentimento de segurança de que falamos pode ser melhorado de maneira significativa por boas relações. Mas não é tão simples como encontrarmos gente bem intencionada ou com bons sentimentos. Precisamos, como diz McWilliams no vídeo, de relações dedicadas, duradouras, capazes de sobreviver aos testes das nossas inseguranças. Para as coisas mais profundas, não há quick fix.

https://cso.org/experience/article/7643/fun-facts-about-home-alone-a-holiday-favorite
Deixe um comentário